segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Cantanhede: Colocação de conduta destruiu árvores e arbustos em área protegida

Cantanhede, Coimbra, 25 Ago (Lusa) - Uma dirigente da associação ambientalista Quercus revelou hoje que centenas de árvores e arbustos foram destruídos para colocar uma conduta de esgotos, no concelho de Cantanhede, numa zona do domínio hídrico protegida por lei.

Maria de Lurdes Cravo, presidente da assembleia-geral daquela associação ambientalista, disse à Agência Lusa que a destruição afecta "uma magnífica galeria ripícola, composta principalmente por freixos e salgueiros e amieiros".

Não tendo conseguido identificar o dono da obra, a Quercus verificou que a obra visa a "colocação de uma conduta e caixas de derivação para transporte de águas residuais para uma estação de tratamento (ETAR)", a construir no limite dos concelhos de Cantanhede e Mira.

Lurdes Cravo disse que a destruição da flora autóctone pode ser confirmada "ao longo de mais ou menos 17 quilómetros da galeria ribeirinha de uma das margens do curso de água ali existente", uma vala entre a freguesia da Varziela e a localidade de Pisão (ponte da Caçoa).

"Na visita que efectuámos ao local, verificámos o corte de uma magnífica galeria ripícola, com recurso a forte mobilização de terras com equipamentos pesados, em áreas do domínio hídrico que estão protegidas por lei", adiantou.

A Quercus vai informar a recém-criada Administração da Região Hidrográfica do Centro desta situação.

"Este projecto levanta-nos dúvidas quanto ao cumprimento dos requisitos legais", referiu.

Segundo a ambientalista, "quaisquer acções no domínio hídrico que impliquem aterros, escavações e cortes de árvores devem garantir que não contribuem para aumentar a erosão e o risco de cheias e que não implicam a destruição da flora, fauna e ecossistemas locais".

"Uma situação que, neste caso, está longe de se verificar", considerou.

Mesmo que tenha havido Estudo de Impacto Ambiental, a Quercus questiona "se a autorização por parte da Administração da Região Hidrográfica terá considerado, entre outros aspectos, o corredor ecológico desta linha de água e também o fenómeno das cheias".

"Questionamos se terão sido estudadas alternativas ao traçado para colocação da conduta, uma vez que, neste caso, seria certamente possível encontrar uma solução com muito menos impacto ambiental", salientou Lurdes Cravo.

As cheias, quando ocorrem naquela bacia hidrográfica, "atingem em regra grandes dimensões e têm provocado danos significativos nas margens", disse.

Lurdes Cravo frisou que "as margens dos rios que se encontram próximos do seu estado natural suportam uma grande diversidade biológica" e que a vegetação ribeirinha "desempenha um papel importante na alimentação e refúgio para comunidades de invertebrados e de peixes".

"Possui também funções insubstituíveis como a prevenção da erosão e actua como filtro biológico dos poluentes através das raízes de árvores e arbustos", acrescentou.

A Agência Lusa apurou junto da empresa municipal Inova, de Cantanhede, que a obra em causa deverá pertencer à SimRia, que serve vários concelhos dos distritos de Aveiro e Coimbra.

No entanto, revelaram-se infrutíferas as tentativas para obter ainda hoje uma reacção da administração da SimRia à denúncia da Quercus.

FONTE

2 comentários:

José Santos disse...

Quando ontem assisti a um documentário estrangeiro que colocava Portugal entre os três melhores países na preservação da vida selvagem...

José Santos disse...

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