domingo, 23 de novembro de 2008

O exemplo de Beiriz


Beiriz tem 4,31 km quadrados e 3223 habitantes. Está longe de ser um centro de excelência, um pólo de desenvolvimento ou um grande exemplo de modernidade. É antes uma pequena e perdida freguesia da Póvoa do Varzim. Mas Beiriz, tem também uma das poucas escolas do País onde, entre manifestações de 120 mil professores, ameaças de boicote e avisos de greve nacionais, se faz calmamente, e dentro dos prazos, a avaliação dos professores, prevista pelo Ministério da Educação, mas sem as actuais modificações referidas após o último Conselho de Ministros Extraordinário desta semana.
Em Beiriz, a avaliação não obriga a uma burocracia infindável, a reuniões pela noite dentro, a um esforço sobre-humano.
Em Beiriz, a avaliação não afecta a qualidade das aulas, o rendimento dos alunos ou a boa vontade dos professores.
Em Beiriz, a escola fecha SEMPRE às 18, 30 horas e, segundo a responsável máxima desta escola - a Directora, ninguém fica depois da hora.
Será a EB 2-3 de Beiriz um milagre? Nem por isso. Simplesmente, funciona.
Em Beiriz, em vez de perderem tempo em passeatas reivindicativas e boicotes organizados pelos sindicatos, trabalha-se.
Nesta escola, quando receberam as regras de avaliação estabelecidas pelo Ministério da Educação, a directora tratou de olhar seriamente para os papéis, ver onde podia cortar a burocracia e tornar como conseguiu, um processo demasiado complexo num esquema muito mais eficaz.
Porque será que o que é impraticável em todo o País seja possível em Beiriz?
Beiriz não é a prova de que a avaliação dos professores proposta pelo ministério é perfeita. Não é. É burocrática, pesada e, em alguns aspectos, errada. Mas é. Existe e é bem melhor existir com defeitos do que não ter qualquer avaliação.
Em Beiriz, os professores trabalham com gosto, os alunos interessam-se e os resultados são bons.
Em Beiriz, faz-se.
E na verdade, isso torna-se cada vez mais raro em Portugal. Porquê?...

4 comentários:

José Vieira disse...

Espero ajudar à compreensão deste problema criado pela Ministra.O exemplo deixa de o ser quando é excepção e aplicado numa pequena escola. Mas as verdadeiras razões porque os professores não querem esta avaliação são estes:(retirado da ~moção apresentada na escola EB 23 de Cantanhede)

"Os docentes não contestam nem recusam ser avaliados. Consideram mesmo que a avaliação do seu desempenho profissional pode e deve ser encarada como uma importante componente do seu desenvolvimento profissional, contribuindo para a melhoria da qualidade da escola. Esta avaliação deve assentar na dimensão do trabalho cooperativo, perspectivado numa lógica essencialmente formativa e contínua, cruzando a responsabilidade individual de cada docente com a responsabilidade colectiva e organizacional.

No entanto, perante a aplicação do modelo de avaliação do desempenho instituído pelo Decreto Regulamentar n.º 2/2008 de 10 de Janeiro, os docentes consideram que:

1. Todas as evidências apontam para a impraticabilidade do modelo de avaliação imposto pelo Ministério da Educação. A sua implementação nas escolas tem mostrado que ele é inadequado, porque inexequível e injusto, em nada contribuindo para a melhoria do desempenho profissional docente, da qualidade da escola e das aprendizagens dos alunos.

2. O processo de implementação da avaliação tem-se revelado bastante tortuoso, tecido num emaranhado normativo burocrático e contraditório, que alimenta um processo labiríntico e profundamente desgastante. Tem-se vindo a traduzir num enorme dispêndio de tempo útil em actividades que em nada contribuem para a desejável melhoria dos desempenhos profissionais, desviando os docentes daquilo que deve constituir o cerne da sua actividade: as actividades de ensino-aprendizagem, a actualização científico-pedagógica e o trabalho cooperativo.

3. A maioria dos itens constantes das fichas de registo da avaliação não é passível de ser universalizada, uma vez que não são aplicáveis a todos os docentes; muitos outros não são ainda objectiváveis por não existirem quadros de referência para sustentação de critérios e indicadores. Estes aspectos põem em causa os princípios básicos da transparência e equidade do processo administrativo.

4. A avaliação entre pares, se tem sentido numa lógica formativa, numa lógica classificativa, tendo em vista a promoção na carreira e consequente hierarquização, torna-se problemática e geradora de grande conflitualidade entre pares, dividindo artificialmente os professores e pondo em causa qualquer construção no sentido da melhoria colectiva da escola como um todo.

5. O estabelecimento de quotas para as classificações de Muito Bom e Excelente, revelam que o seu real objectivo é o de institucionalizar uma relação hierárquica dentro das escolas e dificultar, ou mesmo impedir, a progressão na carreira, numa lógica claramente economicista, da qual se vislumbram duas consequências igualmente nefastas: o desincentivo e desinvestimento dos docentes na melhoria das práticas e implicação na escola, ou a concorrência individualista no mostrar de “obra feita”.

6. A preocupação com a implementação do modelo de avaliação veio descentrar os docentes e as escolas do que é a sua missão central, concebendo-se a avaliação como um fim e não como um meio, como se a melhoria das aprendizagens e dos resultados dos alunos dependessem exclusivamente da aplicação de um normativo de avaliação dos docentes, relegando para segundo plano a preocupação com as apostas genuínas e não utilitárias de melhoria.

7. A melhoria dos resultados dos alunos, bem como o abandono escolar, são realidades que não dependem exclusivamente da acção dos professores e das escolas. Os contextos socioeconómicos e culturais, a acção da família e as atitudes dos alunos são componentes essenciais para o sucesso das aprendizagens e a valorização da escola. Sobre este propósito, ganha todo o sentido e pertinência a Recomendação nº 2 do Conselho Científico da Avaliação dos Professores, que, nesta matéria, inteiramente se subscreve. Mais ainda, é absolutamente incontestável que os alunos não são sujeitos passivos no acto educativo, sendo co-responsáveis pelo seu sucesso. Ignorando este princípio, o modelo de avaliação dos docentes só poderá ter dois efeitos indesejados: a desresponsabilização dos alunos e o facilitismo na avaliação.

8. Um processo desta natureza, pela complexidade do que está em causa, dos instrumentos que utiliza e dos efeitos que provoca, exige transparência de processos e decisões, coerência, precisão, credibilidade e fiabilidade dos dados que irão sustentar a avaliação dos docentes. Tal facto, torna incontornável a necessidade de um período de experimentação, sem qualquer efeito jurídico-legal na progressão da carreira dos docentes. Por outro lado, tendo em conta a forma arbitrária e administrativa com que se dividiu a carreira docente em duas categorias hierárquicas - sem que tal se fundamentasse na evidência de experiência profissional de supervisão ou na posse de qualificações para a função de avaliação de professores – aconselha a um processo de formação prévia dos avaliadores, sustentado em práticas de observação e reflexão sobre o exercício da profissão docente, designadamente na sua dimensão científico-didáctica e pedagógica, devidamente enquadrado nas estruturas de orientação educativa.

9. As sucessivas simplificações, ou aberturas para que as escolas simplifiquem, provam a referida impraticabilidade do modelo, aumentando o risco dos seus efeitos negativos e a responsabilidade das escolas e dos docentes nesses mesmos efeitos, do que poderão vir a ser acusados. Colaborar nestas adaptações aligeiradas, viabilizando a sua implementação, é abdicar da oportunidade de se exigir um sério e justo modelo de avaliação do desempenho, que sirva de facto para a melhoria do sistema educativo."

Coveiro disse...

Carson's75

Sr. Fernando Madrinha

Li a sua peça sobre a Escola de Beiriz e, pedindo desculpa pelo que lhe pode parecer impertinência relativamente à sua pessoa que, aliás muito respeito, mas não posso deixar de me interrogar como é que um jornalista com a sua idade e experiência acredita em tudo o que vem nos jornais.
A Escola de Beiriz será um modelo de virtudes como transparece no seu panegírico?
Sinceramente, tive vontade de rir.
O nosso primeiro-ministro que recentemente lá esteve para promover mais uma iniciativa das Novas Oportunidades, se tivesse lá comparecido sem avisar por certo repararia nos canteiros coberto de ervas daninhas que compunham uma zona da escola. Dois dias antes um agricultor local transplantou para o local umas abóboras, desbravou o terreno e que vê o Eng.º Sócrates? Um exemplo de como os alunos, bem orientados pelos professores, conseguem trabalhar a terra numa actividade formativa que deveria servir de exemplo para outras escolas.
O senhor certamente conhecerá a história das casas caiadas nas ruas do Porto por onde haveria de passar a rainha de Inglaterra...
A Escola de Beiriz desenvolve um sem número de actividades com os seus alunos: colóquios, actividades formativas, tudo muito humanizado e exemplar em termos de formação. Muitos jogos, muito lazer, muito tudo...
E o que é verdadeiramente essencial? Preparar os alunos em áreas como a Matemática, o Inglês, o Português? Será que as escolas secundárias da região agradecem as mais-valias formativas nestas áreas quando recebem os alunos desta escola que concluíram o 9.º Ano? Ou comparando-os com as outras escolas da região se nota que o seu nível de proficiência se apresenta como bastante precário.
Enfim, enfim...
Enfim, quem está longe da realidade gostará de apresentar exemplos que contrariem a norma. Mas, para quem conhece a realidade de perto, não deixará certamente de esboçar um sorriso triste...

Com os melhores cumprimentos

Tony Vieira

Coveiro disse...

A Escola de Beiriz será um modelo de virtudes como transparece no seu panegírico?
Sinceramente, tive vontade de rir.
O nosso primeiro-ministro que recentemente lá esteve para promover mais uma iniciativa das Novas Oportunidades, se tivesse lá comparecido sem avisar por certo repararia nos canteiros coberto de ervas daninhas que compunham uma zona da escola. Dois dias antes um agricultor local transplantou para o local umas abóboras, desbravou o terreno e que vê o Eng.º Sócrates? Um exemplo de como os alunos, bem orientados pelos professores, conseguem trabalhar a terra numa actividade formativa que deveria servir de exemplo para outras escolas.
O senhor certamente conhecerá a história das casas caiadas nas ruas do Porto por onde haveria de passar a rainha de Inglaterra...
A Escola de Beiriz desenvolve um sem número de actividades com os seus alunos: colóquios, actividades formativas, tudo muito humanizado e exemplar em termos de formação. Muitos jogos, muito lazer, muito tudo...
E o que é verdadeiramente essencial? Preparar os alunos em áreas como a Matemática, o Inglês, o Português? Será que as escolas secundárias da região agradecem as mais-valias formativas nestas áreas quando recebem os alunos desta escola que concluíram o 9.º Ano? Ou comparando-os com as outras escolas da região se nota que o seu nível de proficiência se apresenta como bastante precário.
Enfim, enfim...
Enfim, quem está longe da realidade gostará de apresentar exemplos que contrariem a norma. Mas, para quem conhece a realidade de perto, não deixará certamente de esboçar um sorriso triste...

Com os melhores cumprimentos

Tony Vieira

José Vieira disse...

Recebi isto por mail e a ser verdade demonstra a ignorância de muita gente porque ouve quem não deve e não se informa como devia.

'A inútil' escreveu assim a Miguel de Sousa Tavares :

sobre os Professores

É do conhecimento público que o senhor Miguel de Sousa Tavares considerou
'os professores os inúteis mais bem pagos deste país.' Espantar-me-ia uma
afirmação tão generalista e imoral, não conhecesse já outras afirmações que
não diferem muito desta, quer na forma, quer na índole. Não lhe parece que
há inúteis, que fazem coisas inúteis e escrevem coisas inúteis, que são
pagos a peso de ouro? Não lhe parece que deveria ter dirigido as suas
aberrações a gente que, neste deprimente país, tem mais do que uma sinecura
e assim enche os bolsos? Não será esse o seu caso? O que escreveu é um
atentado à cultura portuguesa, à educação e aos seus intervenientes, alunos
e professores. Alunos e professores de ontem e de hoje, porque eu já fui
aluna, logo de 'inúteis', como o senhor também terá sido. Ou pensa hoje de
forma diferente para estar de acordo com o sistema?
O senhor tem filhos? - a minha ignorância a este respeito deve-se ao facto
de não ser muito dada a ler revistas cor-de-rosa. Se os tem, e se estudam,
teve, por acaso, a frontalidade de encarar os seus professores e dizer-lhes
que 'são os inúteis mais bem pagos do país.'? Não me parece... Estudam os
seus filhos em escolas públicas ou privadas? É que a coisa muda de figura!
Há escolas privadas onde se pagam substancialmente as notas dos alunos, que
os professores 'inúteis' são obrigados a atribuir. A alarvidade que
escreveu, além de ser insultuosa, revela muita ignorância em relação à
educação e ao ensino. E, quem é ignorante, não deve julgar sem conhecimento
de causa. Sei que é escritor, porém nunca li qualquer livro seu, por isso
não emito julgamentos sobre aquilo que desconheço. Entende ou quer que a
professora explique de novo?
Sou professora de Português com imenso prazer. Oxalá nunca nenhuma das suas
obras venha a integrar os programas da disciplina, pois acredito que nenhum
dos 'inúteis' a que se referiu a leccionasse com prazer. Com prazer e
paixão tenho leccionado, ao longo dos meus vinte e sete anos de serviço, a
obra de sua mãe, Sophia de Mello Breyner Andersen, que reverencio. O senhor
é a prova inequívoca que nem sempre uma sã e bela árvore dá são e belo
fruto. Tenho dificuldade em interiorizar que tenha sido ela quem o ensinou
a escrever. A sua ilustre mãe era uma humanista convicta. Que pena não ter
interiorizado essa lição! A lição do humanismo que não julga sem provas! Já
visitou, por acaso, alguma escola pública? Já se deu ao trabalho de ler,
com atenção, o documento sobre a avaliação dos professores? Não, claro que
não. É mais cómodo fazer afirmações bombásticas, que agitem, no mau
sentido, a opinião pública, para assim se auto-publicitar.
Sei que, num jornal desportivo, escreve, de vez em quando, umas crónicas e
que defende muito bem o seu clube. Alguma vez lhe ocorreu, quando o seu
clube perde, com clubes da terceira divisão, escrever que 'os jogadores de
futebol são os inúteis mais bem pagos do país.'? Alguma vez lhe ocorreu
escrever que há dirigentes desportivos que 'são os inúteis' mais protegidos
do país? Presumo que não, e não tenho qualquer dúvida de que deve entender
mais de futebol do que de Educação. Alguma vez lhe ocorreu escrever que os
advogados 'são os inúteis mais bem pagos do país'? Ou os políticos? Não,
acredito que não, embora também não tenha dúvidas de que deve estar mais
familiarizado com essas áreas. Não tenho nada contra os jogadores de
futebol, nada contra os dirigentes desportivos, nada contra os advogados.
Porque não são eles que me impedem de exercer, com dignidade, a minha
profissão. Tenho sim contra os políticos arrogantes, prepotentes, desumanos
e inúteis, que querem fazer da educação o caixote do (falso) sucesso para
posterior envio para a Europa e para o mundo. Tenho contra
pseudo-jornalistas, como o senhor, que são, juntamente com os políticos,
'os inúteis mais bem pagos do país', que se arvoram em salvadores da
pátria, quando o que lhes interessa é o seu próprio umbigo.
Assim sendo, sr. Miguel de Sousa Tavares, informe-se, que a informaçãozinha
é bem necessária antes de 'escrevinhar' alarvices sobre quem dá a este
país, além de grandes lições nas aulas, a alunos que são a razão de ser do
professor, lições de democracia ao país. Mas o senhor não entende! Para si,
democracia deve ser estar do lado de quem convém.
Por isso, não posso deixar de lhe transmitir uma mensagem com que termina
um texto da sua sábia mãe:
'Perdoai-lhes, Senhor
Porque eles sabem o que fazem.'


AnaMaria Gomes
Escola Secundária de Barcelos