domingo, 13 de abril de 2008

Acordo Ortográfico: Opositores têm posição "tacanha" - Malaca Casteleiro


Lisboa, 04 Abr (Lusa) - O professor João Malaca Casteleiro, linguista que participou na elaboração do Acordo Ortográfico, classificou hoje como "tacanha" a posição daqueles que se opõem à sua ratificação, pendente há 14 anos.

"Estou em crer que [a resistência à adopção do acordo] é uma perspectiva tacanha, de ver Portugal como proprietário da língua, o dono da língua, tendo os outros apenas de seguir o que Portugal estabelece", disse hoje à Lusa o linguista, membro da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa.
"Ora, a maior riqueza da língua portuguesa é ela ser compartilhada, neste momento, por oito países: Portugal, cinco países africanos, Timor-Leste - na Ásia, e também, não esqueçamos, a região administrativa especial de Macau, onde o português é língua oficial ainda pelos próximos 40 anos - e o Brasil", sublinhou.
Segundo Malaca Casteleiro, "é muito importante olhar para este futuro da língua portuguesa e para a sua importância no mundo".
"Essa é a maior dádiva dos descobrimentos portugueses, da expansão de Portugal pelo mundo: termos conseguido que a língua portuguesa perdurasse para além da independência das colónias que tivemos nos vários continentes", sublinhou.
Sobre os resultados da reunião da Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura, agendada para a próxima segunda-feira e destinada a debater o Acordo Ortográfico, o especialista afirmou que as suas expectativas "são muito positivas".
"Acho que há uma vontade política do Governo de levar por diante este processo que se arrasta há quase 100 anos (desde 1911, data do primeiro acordo entre Portugal e o Brasil) e ao qual é preciso pôr um termo", sustentou.
Na sua opinião, "as pessoas não querem compreender que a questão ortográfica se arrasta há quase um século e que é preciso pôr-lhe um termo".
"É preciso encontrar uma forma tanto quanto possível unificada de escrever a língua portuguesa sem alterar nada, no que respeita à morfologia, à sintaxe, à semântica, ao léxico da língua", defendeu.
O linguista frisou que o Acordo Ortográfico "só toca na forma de escrever, de grafar, as palavras e mais nada".
"A queda das consoantes mudas ou não articuladas é a principal mudança e é aquela que devia ter sido feita há muito tempo, porque se tivesse sido feita logo em 1911 ou 1931, em que era possível o acordo com o Brasil, o problema tinha-se ultrapassado facilmente", opinou.
"Não me digam que é por causa de passarmos a escrever `actor` sem `c`, ou `óptimo` sem `p`, ou `direcção` só com `c` cedilhado que a língua se vai alterar ou, mais do que alterar, adulterar. De modo nenhum", comentou.
Referindo "tantas alterações que se efectuaram ao longo da história da língua, o professor Malaca Casteleiro deu o exemplo do grafema "ph".
"Em 1911, substituiu-se o `ph`, que era até um grafema muito interessante - em pharmacia, em philipe, por exemplo, era bonito! - por `f`, que não tem a estética que tem o `ph`. E isso entrou no hábito das pessoas, por que é que agora não hão-de entrar estas alterações?", interrogou-se.
ANC.
© 2008 LUSA - Agência de Notícias de Portugal, S.A.2008-04-04 20:30:02

5 comentários:

José Vieira disse...

Deixem-me concordar com o acordo! Não estamos a ser vendidos a ninguém... o Português é único e tem muitas formas. Se os nossos antepassados pensassem assim hoje falaríamos numa língua morta... a língua evolui /fazemo-la evoluir com os linguajares dos vários povos. Além disso já houve outro acordo entre o Brasil e Portugal e foi Portugal que o assinou que não adoptou as alterações. Lembram-se como se escrevia farmácia?
Já repararam que a palavra "fixe" já faz parte do dicionário? alguém discordou??? não me lembro... e as palavras (estrangeirismos)que aceitamos tão bem sem nada dizer... fica bem... é chique ou chic. Peguem num texto de alguns que não defendem o acordo e leiam, leiam, optam por palavras que não têm raízes Portuguesas. Mas são intelectuais... e podem, mas não defendem em nada, a língua que já não é de Camões mas dos milhões que a falam. Orgulhamo-nos de ser uma das línguas mais faladas do mundo mas esquecemo-nos que é por causa dos PALOP, principalmente por causa do Brasil.
Orgulhosamente sós na cauda da Europa.
Orgulhosamente sós a falar uma língua morta.
Corremos mundo deixamos marca em muitas línguas desde as africanas às orientais... Fernando Pessoa não escrevia como nós... deixamos de ser Portugueses? Porque se alterou? A língua evolui, mas são os homens que a reescrevem. O Português destes milhões é mais rico que o dos orgulhosamente sós.
A nossa identidade como PORTUGUESES faz-se noutros campos onde andamos todos muito distraídos. A discussão passa por esta palavra: IDENTIDADE.E a língua é umas delas, mas faltam muitas mais para o SER. Lembram-se do escudo? O Cabo Verdianos têm-no! Lembram-se da Monarquia? Orgulhamo-nos do D. Afonso Henriques...Nós somos a nossa História e temos de a fazer, aliás, estamos fazendo. Temos de a cumprir. E é fazendo-a como POVO.

Vítor Ramalho disse...

Já ando para escrever sobre o Acordo Ortográfico há algum tempo. Os leitores perdoam-me a falta de oportunidade. Parece-me uma das batalhas que importa travar e vencer na blogosfera. Antes de mais, esclareço a minha posição: sou contra.

A questão das consoantes mudas, só por si, dá vários tratados. A eliminação do hífen, outros tantos. O acordo estabelece que não se usará hífen em palavras com prefixo terminado em vogal e o segundo elemento começado por ‘r’ ou ’s’. Acaba assim com os anti-semitas. De ora em diante, só antissemitas. Nelson Rodrigues, o extraordinário dramaturgo e polemista brasileiro, recorria amiúde nas suas crónicas à expressão “um sol de rachar catedrais”. Pois aquele «SS» central em antissemitas é de rachar sinagogas.
O assunto merece mais do que um postal, mas para já deixo aqui as duas principais razões do meu protesto:

1. O Estado não tem nada que se meter onde não é chamado. Que vá peneirar os tiques totalitários para outros domínios. Um idioma não se impõe por decreto. Fernando Pessoa, por exemplo, marimbou-se de alto para a Reforma Ortográfica de 1911 e continuou a grafar como havia aprendido. Sobre a reforma republicana, escreveu: «Além do impatriotismo, foi o acto imoral e impolítico».
O Inglês é a língua franca do mundo inteiro, mas nenhum Parlamento pretendeu até hoje “unir” e “harmonizar” as ortografias do Reino Unido e dos Estados Unidos, que são diferentes.

2. A diferença entre o Português de Portugal e o do Brasil é menos ortográfica do que lexical. Para além das naturais variações de pronúncia, prosódia e morfossintaxe. Há autocarro, em Portugal, e ônibus, no Brasil; comboio e trem; eléctrico e bonde; boleia e carona; talho e açougue; pequeno-almoço e café da manhã; casa de banho e banheiro; relvado e gramado; guarda-redes e goleiro; matraquilhos e pimbolim; telemóvel e celular; e um larguíssimo etc.
Provavelmente na opinião do Sr. professor Malaca eu sou uma pessoa de ideias tacanhas. O que será tão douta iminência que ousa insultar quem com ele não concorda.

Anónimo disse...

Um estudo interessante:

O Português Brasileiro

Rosa Virgínia Mattos e Silva

1. O Português Brasileiro e o Português Europeu contemporâneos: alguns aspectos da diferença


O Português Brasileiro descende do Europeu. No Brasil, tomou a sua forma na complexa interação entre


- a língua do colonizador (e, portanto, do poder e do prestígio),

- as numerosas línguas indígenas brasileiras,

- as também numerosas línguas africanas chegadas pelo tráfico negreiro (oficial entre 1549 e 1830, não oficial antes e depois desses limites),

- e finalmente as línguas dos que emigraram para o Brasil da Europa e da Ásia, sobretudo a partir de meados do século XIX.

Dessa potencial Babel lingüística, foi se definindo, ao longo de quinhentos anos – pouco tempo para a história de uma língua – o formato brasileiro contemporâneo da língua portuguesa.

Ler mais em:
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/hlp/hlpbrasil/index.html

Manel disse...

O português ainda é o que é graças ao Brasil.
Um acordo ortográfico serve em especial maneira às editoras, mas não vejo que venha mal ao mundo se eu escrever como antes do referido acordo.
Nã coloco a questão de estar contra ou a favor, pois algaraviadas e patois sempre existiram e existirão, enquanto o animal homem articular sons onde suporta o seu raciocínio.

inverdades disse...

Repugnante!!! Bem...os comentários são piores que a notícia...somos mesmo um País "anedótico"...A ex-Colónia é que dita a regra...
Quero aprender latim...pois certeza tenho língua morta não a podem "matar"...mas que ainda se usa...
Qualquer dia temos o português tal e qual como esse escreve nas sms!!!
Deve ser esse que vos satisfaz!!!
Sois "os cangalheiros" da nossa língua...
Parabéns...