O conceito de
raças humanas foi usado pelos regimes
coloniais e pelo
apartheid (na
África do Sul), para perpetuar a submissão dos colonizados; actualmente, só nos
Estados Unidos se usa uma classificação da sua população em raças, alegadamente para proteger os direitos das
minorias [1].
A definição de raças humanas é principalmente uma classificação de ordem social, onde a cor da pele e origem social ganham, graças a uma cultura
racista, sentidos, valores e significados distintos. As diferenças mais comuns referem-se à cor de
pele, tipo de cabelo, conformação facial e
cranial, ancestralidade e, em algumas culturas,
genética. O conceito de raça humana não se confunde com o de sub-espécie e com o de variedade, aplicados a outros seres vivos que não o homem(embora humanos e animais estejam exatamente sobre o mesmo tipo de seleção genética, apesar das pomposas fachadas pseudo-civilizatórias). Por seu caráter controverso (seu impacto na
identidade social e
política), o conceito de raça é questionado por alguns estudiosos como
construto social; entre os biológos, é um conceito com certo descrédito por não se conformar a normas
taxonômicas aceites.
Algumas vezes utiliza-se o termo raça para identificar um grupo cultural ou étnico-lingüístico, sem quaisquer relações com um padrão biológico. Nesse caso pode-se preferir o uso de termos como
população,
etnia, ou mesmo
cultura.
A primeira classificação dos
homens em raças foi a “Nouvelle division de la terre par les différents espèces ou races qui l'habitent” ("Nova divisão da terra pelas diferentes espécies ou raças que a habitam") de
François Bernier, publicada em
1684. No
século XIX, vários naturalistas publicaram estudos sobre as “raças humanas”, como
Georges Cuvier,
James Cowles Pritchard,
Louis Agassiz,
Charles Pickering e
Johann Friedrich Blumenbach. Nessa época, as “raças humanas” distinguiam-se pela cor da
pele, tipo
facial (principalmente a forma dos
lábios,
olhos e
nariz), perfil
craniano e textura e cor do
cabelo, mas considerava-se também que essas diferenças reflectiam diferenças no conceito de
moral e na
inteligência, pois uma caixa cranial maior e/ou mais alta representava um cérebro maior, mais alto e por consequencia maior quantidade de células cerebrais).
A necessidade de descrever os “outros” advém do contacto social entre indivíduos e entre grupos diferentes. No entanto, a classificação de grupos traz sempre consequências negativas, principalmente pelo facto dos termos empregues poderem ser considerados pejorativos pelos grupos visados (ver, por exemplo
ameríndio e
hotentote). Tradicionalmente, os seres humanos foram divididos em três ou cinco grandes grupos de linhagem (dependendo de interpretação), mas a denominação de cada um – pelo motivo indicado – tem variado ao longo do tempo:
Mongolóide (raça amarela): povos do leste e sudeste asiático, Oceania (
malaios e
polinésios) e continente americano (
esquimós e
ameríndios).
Caucasóide (raça branca): povos de todo o continente europeu, norte da África e parte do continente asiático (Oriente Médio e norte do Subcontinente Indiano).
Negróide (raça negra): povos da África Subsaariana.
Os outros dois grupos de linhagem humana poderiam ser:
Australóide: sul da Índia (
drávidas), negritos das Ilhas Andaman (Oceano Índico), negritos das Filipinas, aborígenes de Papua-Nova Guiné, aborígenes da Austrália e povos melanésios da Oceania.
Capóide: tribos
Khoisan (extremo sul do continente africano).
Apesar de poderem ser considerados como dois grupos distintos de linhagem humana, australóides e capóides também podem ser considerados como negróides, de acordo com essa mesma classificação tradicional.
Como qualquer classificação, esta é imperfeita e, por isso, ao longo do tempo, foram sendo usados outros termos, principalmente para grupos cujas características não se ajustavam aos grupos “definidos”, como é o caso dos
pardos para indicar os
indígenas do sub-continente
indiano, entre outros. De notar que, a par desta classificação baseada em características físicas, houve sempre outras, mais relacionadas com a
cultura, principalmente a
religião dos “outros”, como os
mouros ou “infiéis”, como os europeus denominavam os
muçulmanos, ou os
judeus.
No início do
século XX,
Franz Boas pôs em causa a noção de raça e foi seguido por outros
antropólogos, como
Ashley Montagu,
Richard Lewontin e
Stephen Jay Gould. Contudo, alguns cientistas como
J. Philippe Rushton,
Arthur Jensen,
Vincent Sarich e
Frank Miele (autores de “Race: The Reality of Human Differences”) proclamam que não só essa tese é falsa, mas que foi politicamente motivada e não tem bases científicas.
Análises
genéticas recentes permitem que a
evolução e
migrações humanas seja representado duma forma
cladística. Estes estudos indicam que, como já era conhecido, a
África foi o “berço” da humanidade. Verificou-se que os
aborígenes australianos foram originados num grupo que se isolou dos restantes há muito tempo e que todos os outros grupos, incluindo “europeus”, “asiáticos” e “nativos americanos” perfazem um único grupo
monofilético resultante das migrações para fora do continente africano e que poderia dividir-se no equivalente aos oeste- e leste “euro-asiáticos”, reconhecendo sempre haver muitos grupos intermédios.