domingo, 22 de novembro de 2009

Um orçamento mentiroso

Já muito se escreveu sobre o valor das palavras como instrumentos de dominação política. Seja em Wells, Huxley ou Orwell, o padrão é sempre igual: mentir!
O Governo anunciou que vai pedir uma autorização legislativa para um Orçamento "redistributivo".
O Governo tem poderes para chamar ao Orçamento o que quiser: redistributivo, ambicioso, fautor de felicidade, amigável. Mas o Executivo sabe que as palavras são importantes e que se lhe chamasse rectificativo, como toda a gente percebe que ele é, estaria a assumir que falhou nas previsões. Assim, chamando-lhe redistributivo, está a dar ideia de que redistribui alguma coisa. Espanta, até, que não lhe chame Orçamento benemérito, para dar a ideia de que iria beneficiar alguém, mas talvez fique para o ano...
A proposta que está no Parlamento, a pouco mais de um mês do fim do ano, já toda a gente sabia que ia ser necessária. Em Julho já era óbvio que as receitas não chegavam. Mas o Executivo não quis dar o braço a torcer e aguentou enquanto pôde. Agora, inventou um nome.
Há 15 dias, Nicolau Santos titulou assim a sua coluna de opinião neste jornal: 'O que aí vem é dantesco'. Já se vê que se fosse o Governo a fazer o texto usaria outro escritor para ilustrar o futuro. O que aí vem seria, para o Governo, digamos camoniano, por exemplo.
A verdade é que o que aí vem, vem mesmo. E podem chamar-lhe os nomes que quiserem, mas é mau. Pode ser que com palavras bonitas nos anestesiem uns tempos, mas, como disse Abraham Lincoln, se é possível enganar todos por algum tempo, se é possível enganar alguns todo o tempo, não se pode enganar todos durante todo o tempo.
Fonte: Expresso

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