Jorge Martins alega que a “falta de lealdade” o levou a recusar ser reconduzido na presidência do Hospital de Cantanhede
O cirurgião Jorge Martins, ainda presidente do conselho de administração do Hospital Arcebispo João Crisóstomo (HAJC) de Cantanhede, explicou ao Diário de Coimbra os verdadeiros motivos porque se demitiu do cargo que ocupa desde 2005. Ou melhor: por que não aceita a recondução na presidência e direcção do hospital. Porque, na verdade – começou por adiantar –, «não me demiti, mas sim pedi à tutela para não me reconduzir, como, aliás, estava planeado e garantido».
Então, o que levou este clínico a tão drástica medida, uma vez que tinha o apoio quer da ARS Centro quer do Ministério da Saúde? Jorge Martins foi claro e não deixou margem para dúvidas: «Não quero fazer o papel de Américo Tomás!». E explicou o que deixa entender esta enigmática frase: «Sou presidente do conselho administrativo, director executivo e não tenho peso nenhum. Os outros dois elementos têm mais votos e chumbam todas as minhas propostas e eu não sou nem quero ser um presidente decorativo, fazer o papel de Américo Tomas», revela o médico cirurgião, militante socialista e deputado da Assembleia Municipal de Cantanhede.
As críticas e o motivo da sua recusa na recondução do cargo são direccionados aos restantes elementos do conselho de administração, a enfermeira chefe e directora Áurea Andrade e à médica e vogal executiva Isabel Neves.
«Alguém pensou que eu não voltava mais [Jorge Martins foi sujeito a um transplante na Corunha, onde esteve largos meses] e quando regressei senti que não foram correctas comigo e encontrei razões que entendi fortes para tomar esta decisão», adiantou o clínico, especificando: «As minhas propostas eram chumbadas com os votos desses elementos, que adoptaram uma postura de afastamento do director do hospital».
«O funcionamento da administração estava em causa e não podia pactuar com esta situação», argumenta Jorge Martins, confirmando uma alegada incompatibilidade com a enfermeira e médica que fazem parte da actual administração hospitalar.
O cirurgião, actualmente em férias até ao próximo dia 13 de Março, diz que tentou «chegar a um consenso» com as suas colegas de direcção, falando com Áurea Andrade e Isabel Neves, para «apaziguar» o alegado conflito existente na administração hospitalar, «mas não foi possível e fiquei com o saco cheio», alega o ainda administrador, acusando aquelas responsáveis de falta «de lealdade».
Regressar “às origens”
Garantindo que a sua recondução no cargo «estava garantida com a tutela», Jorge Martins afirma que também chegou a falar com os seus superiores hierárquicos (ARS Centro), antes de decidir bater com a porta, para se chegar ao desejado consenso na administração hospitalar, o que também não terá sido conseguido.
«Sou extremamente pragmático e se as razões que marcam a minha atitude se mantiverem, não estou disponível para continuar», frisa o clínico, sublinhando que «se estivesse agarrado ao lugar não saía».
Agora, Jorge Martins espera que a tutela nomeie o seu substituto até ao final das férias que está a gozar para entrar «num período sabático, de reflexão» e, depois, «regressar às origens», ou seja, ao hospital da Covilhã, onde foi «cirurgião durante 20 anos», já que a reforma ainda está longe. «Tenho apenas 55 anos e ainda tenho muito para dar», anota.
Este clínico, recorde-se, exerceu funções de médico cirurgião em Cantanhede, Coimbra, Madeira, Covilhã, onde também foi administrador hospitalar, e regressou a Cantanhede em 2005, iniciando uma profunda remodelação no Arcebispo João Crisóstomo que culminou com a total requalificação do edifício hospitalar e introdução de novos serviços.
“Não quero usar o mesmo
canal de comunicação”
Face às críticas de Jorge Martins às suas colegas na administração do hospital de Cantanhede, o Diário de Coimbra falou com a enfermeira Áurea Andrade e a médica Isabel Neves. A enfermeira remeteu-se ao silêncio e não quis comentar qualquer afirmação do médico cirurgião, sustentando que o assunto «está a ser tratado pela tutela». Isabel Neves também não quis alimentar qualquer polémica, mas sempre disse que «estamos num país livre» e que cada um «pode dizer o que quer». Esta responsável frisa que não é «elemento (do conselho administrativo) nomeado pela política» e, por isso, não pretende meter-se em assuntos políticos. Porém, Isabel Neves argumenta que Jorge Martins «optou por um canal de comunicação que considerou mais adequado para poder passar as suas ideias, mas eu não quero utilizar o mesmo canal».
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