segunda-feira, 2 de março de 2009

“Não que­ro fazer papel de Amé­ri­co Tomás”

Jor­ge Mar­tins alega que a “falta de lealdade” o levou a recusar ser reconduzido na pre­si­dên­cia do Hos­pi­tal de Can­ta­nhe­de

O cirur­gi­ão Jor­ge Mar­tins, ain­da pre­si­den­te do con­se­lho de ad­mi­nis­tra­ção do Hos­pi­tal Ar­ce­bis­po João Cri­sós­to­mo (HAJC) de Can­ta­nhe­de, expli­cou ao Diá­rio de Coim­bra os ver­da­dei­ros moti­vos por­que se demi­tiu do car­go que ocu­pa des­de 2005. Ou melhor: por que não acei­ta a recon­du­ção na pre­si­dên­cia e direc­ção do hos­pi­tal. Por­que, na ver­da­de – come­çou por adi­an­tar –, «não me demi­ti, mas sim pedi à tute­la para não me recon­du­zir, como, ali­ás, esta­va pla­ne­a­do e garan­ti­do».
Então, o que levou este clí­ni­co a tão drás­ti­ca medi­da, uma vez que tinha o apoio quer da ARS Cen­tro quer do Minis­té­rio da Saú­de? Jor­ge Mar­tins foi cla­ro e não dei­xou mar­gem para dúvi­das: «Não que­ro fazer o papel de Amé­ri­co Tomás!». E expli­cou o que dei­xa enten­der esta enig­má­ti­ca fra­se: «Sou pre­si­den­te do con­se­lho admi­nis­tra­ti­vo, direc­tor exe­cu­ti­vo e não tenho peso nenhum. Os outros dois ele­men­tos têm mais votos e chum­bam todas as minhas pro­pos­tas e eu não sou nem que­ro ser um pre­si­den­te deco­ra­ti­vo, fazer o papel de Amé­ri­co Tomas», reve­la o médi­co cirur­gi­ão, mili­tan­te soci­a­lis­ta e depu­ta­do da Assem­bleia Muni­ci­pal de Can­ta­nhe­de.
As crí­ti­cas e o moti­vo da sua recu­sa na recon­du­ção do car­go são direc­cio­na­dos aos res­tan­tes ele­men­tos do con­se­lho de admi­nis­tra­ção, a enfer­mei­ra che­fe e direc­to­ra Áurea Andra­de e à médi­ca e vogal exe­cu­ti­va Isa­bel Neves.
«Alguém pen­sou que eu não vol­ta­va mais [Jor­ge Mar­tins foi sujei­to a um trans­plan­te na Coru­nha, onde este­ve lar­gos mes­es] e quan­do regres­sei sen­ti que não foram cor­rec­tas comi­go e encon­trei razões que enten­di for­tes para tomar esta deci­são», adi­an­tou o clí­ni­co, espe­ci­fi­can­do: «As minhas pro­pos­tas eram chum­ba­das com os votos des­ses ele­men­tos, que adop­ta­ram uma pos­tu­ra de afas­ta­men­to do direc­tor do hos­pi­tal».
«O fun­cio­na­men­to da admi­nis­tra­ção esta­va em cau­sa e não podia pac­tu­ar com esta situ­a­ção», argu­men­ta Jor­ge Mar­tins, con­fir­man­do uma ale­ga­da incom­pa­ti­bi­li­da­de com a enfer­mei­ra e médi­ca que fazem par­te da actu­al admi­nis­tra­ção hos­pi­ta­lar.
O cirur­gi­ão, actu­al­men­te em férias até ao pró­xi­mo dia 13 de Mar­ço, diz que ten­tou «che­gar a um con­sen­so» com as suas cole­gas de direc­ção, falan­do com Áurea Andra­de e Isa­bel Neves, para «apa­zi­guar» o ale­ga­do con­fli­to exis­ten­te na admi­nis­tra­ção hos­pi­ta­lar, «mas não foi pos­sí­vel e fiquei com o saco cheio», ale­ga o ain­da admi­nis­tra­dor, acu­san­do aque­las res­pon­sá­veis de fal­ta «de leal­da­de».

Regres­sar “às ori­gens”
Garan­tin­do que a sua recon­du­ção no car­go «esta­va garan­ti­da com a tute­la», Jor­ge Mar­tins afir­ma que tam­bém che­gou a falar com os seus supe­ri­o­res hie­rár­qui­cos (ARS Cen­tro), antes de deci­dir bater com a por­ta, para se che­gar ao dese­ja­do con­sen­so na admi­nis­tra­ção hos­pi­ta­lar, o que tam­bém não terá sido con­se­gui­do.
«Sou extre­ma­men­te prag­má­ti­co e se as razões que mar­cam a minha ati­tu­de se man­ti­ve­rem, não estou dis­po­ní­vel para con­ti­nu­ar», fri­sa o clí­ni­co, subli­nhan­do que «se esti­ves­se agar­ra­do ao lugar não saía».
Ago­ra, Jor­ge Mar­tins espe­ra que a tute­la nomeie o seu sub­sti­tu­to até ao final das férias que está a gozar para entrar «num perí­o­do sabá­ti­co, de refle­xão» e, depois, «regres­sar às ori­gens», ou seja, ao hos­pi­tal da Covi­lhã, onde foi «cirur­gi­ão duran­te 20 anos», já que a refor­ma ain­da está lon­ge. «Tenho ape­nas 55 anos e ain­da tenho mui­to para dar», ano­ta.
Este clí­ni­co, recor­de-se, exer­ceu fun­ções de médi­co cirur­gi­ão em Can­ta­nhe­de, Coim­bra, Madei­ra, Covi­lhã, onde tam­bém foi admi­nis­tra­dor hos­pi­ta­lar, e regres­sou a Can­ta­nhe­de em 2005, ini­ci­an­do uma pro­fun­da remo­de­la­ção no Arce­bis­po João Cri­sós­to­mo que cul­mi­nou com a total requa­li­fi­ca­ção do edi­fí­cio hos­pi­ta­lar e intro­du­ção de novos ser­vi­ços.

“Não que­ro usar o mes­mo
canal de comu­ni­ca­ção”
Face às crí­ti­cas de Jor­ge Mar­tins às suas cole­gas na admi­nis­tra­ção do hos­pi­tal de Can­ta­nhe­de, o Diá­rio de Coim­bra falou com a enfer­mei­ra Áurea Andra­de e a médi­ca Isa­bel Neves. A enfer­mei­ra reme­teu-se ao silên­cio e não quis comen­tar qual­quer afir­ma­ção do médi­co cirur­gi­ão, sus­ten­tan­do que o assun­to «está a ser tra­ta­do pela tute­la». Isa­bel Neves tam­bém não quis ali­men­tar qual­quer polé­mi­ca, mas sem­pre dis­se que «esta­mos num país livre» e que cada um «pode dizer o que quer». Esta res­pon­sá­vel fri­sa que não é «ele­men­to (do con­se­lho admi­nis­tra­ti­vo) nome­a­do pela polí­ti­ca» e, por isso, não pre­ten­de meter-se em assun­tos polí­ti­cos. Porém, Isa­bel Neves argu­men­ta que Jor­ge Mar­tins «optou por um canal de comu­ni­ca­ção que con­si­de­rou mais ade­qua­do para poder pas­sar as suas idei­as, mas eu não que­ro uti­li­zar o mes­mo canal».

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