Pára-quedistas da Companhia 121, veteranos da guerra colonial, estiveram este sábado em Tancos, numa homenagem a três camaradas de armas que morreram na Guiné-Bissau. Os restos mortais só agora regressaram a Portugal.
Uma parada em silêncio escutou as primeiras palavras do general Hugo Borges. Comandava o pelotão - na altura jovem tenente - envolvido na emboscada que, em Guidage, Norte da Guiné, custou a vida a três pára-quedistas. Era o dia 23 de Maio de 1973.
"A bolanha abre-se, despida, enorme sem abrigo. Os páras conhecem o perigo, mas Guidage espera cercada. Avançam, chega a emboscada. Chovem morteiradas e canhoadas, RPGs cruzam os ares, dantesco fogo de artifício...". José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto iam na primeira linha. Foram os primeiros a cair.
Mais de 35 anos depois, as urnas com os restos dos três soldados estão alinhadas junto ao Monumento Aos Mortos em Combate que domina a parada da Escola de Tropas Pára-quedistas de Tancos. Jazem sob a bandeira portuguesa, uma simbólica boina verde e o brevet dos pára- -quedistas.
Vinte e três de Maio. A data da emboscada coincide com o dia dos pára-quedistas, assumindo assim uma dimensão simbólica particular. "Ninguém fica para trás" - o lema dos pára-quedistas esperou 35 anos para ser respeitado. Na altura, as circunstâncias da guerra na Guiné impediram a evacuação dos três corpos, depositados num cemitério improvisado a pouca distância do local em que tombaram em combate.
Um silêncio comovido percorre a parada. A emoção vinca muitos rostos recolhidos. Hugo Borges continua a recordar. "O primeiro soldado caiu à minha frente". Embarga-se-lhe momentaneamente a voz. Ouve-se o toque de silêncio. O minuto de recolhimento. O Toque aos Mortos. O Toque de Alvorada, símbolo de esperança, grito daqueles "em quem poder não teve a morte".
As urnas abandonam a parada a caminho da morada definitiva. "Missão cumprida", remata o general Borges. Lourenço, Vitoriano e Peixoto regressaram ontem a Cadima (Cantanhede), Castro Verde e Gião (Vila do Conde). Terras que os viram nascer. Mas a viagem às memórias prossegue hoje. É último domingo de Julho, dia de concentração anual de pára-quedistas em Fátima.
Fonte:JN
CARLOS SANTOS PEREIRA *
* Jornalista da Agência Lusa
Uma parada em silêncio escutou as primeiras palavras do general Hugo Borges. Comandava o pelotão - na altura jovem tenente - envolvido na emboscada que, em Guidage, Norte da Guiné, custou a vida a três pára-quedistas. Era o dia 23 de Maio de 1973.
"A bolanha abre-se, despida, enorme sem abrigo. Os páras conhecem o perigo, mas Guidage espera cercada. Avançam, chega a emboscada. Chovem morteiradas e canhoadas, RPGs cruzam os ares, dantesco fogo de artifício...". José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto iam na primeira linha. Foram os primeiros a cair.
Mais de 35 anos depois, as urnas com os restos dos três soldados estão alinhadas junto ao Monumento Aos Mortos em Combate que domina a parada da Escola de Tropas Pára-quedistas de Tancos. Jazem sob a bandeira portuguesa, uma simbólica boina verde e o brevet dos pára- -quedistas.
Vinte e três de Maio. A data da emboscada coincide com o dia dos pára-quedistas, assumindo assim uma dimensão simbólica particular. "Ninguém fica para trás" - o lema dos pára-quedistas esperou 35 anos para ser respeitado. Na altura, as circunstâncias da guerra na Guiné impediram a evacuação dos três corpos, depositados num cemitério improvisado a pouca distância do local em que tombaram em combate.
Um silêncio comovido percorre a parada. A emoção vinca muitos rostos recolhidos. Hugo Borges continua a recordar. "O primeiro soldado caiu à minha frente". Embarga-se-lhe momentaneamente a voz. Ouve-se o toque de silêncio. O minuto de recolhimento. O Toque aos Mortos. O Toque de Alvorada, símbolo de esperança, grito daqueles "em quem poder não teve a morte".
As urnas abandonam a parada a caminho da morada definitiva. "Missão cumprida", remata o general Borges. Lourenço, Vitoriano e Peixoto regressaram ontem a Cadima (Cantanhede), Castro Verde e Gião (Vila do Conde). Terras que os viram nascer. Mas a viagem às memórias prossegue hoje. É último domingo de Julho, dia de concentração anual de pára-quedistas em Fátima.
Fonte:JN
CARLOS SANTOS PEREIRA *
* Jornalista da Agência Lusa
1 comentário:
Já tinha escrito sobre o assunto. Tive até ocasião de falar com alguns camaradas de armas que lutavam para que os heróis retornassem à Pátria.
É com satisfação que vemos que finalmente foi feita justiça.
De nota a parte da noticia que fala da ida de dois pais a Lisboa, na esperança de verem o sacrifício do filho homenageado. Voltaram de mãos a abanar e com a cabeça cheia da cassete do sistema. Vergo-me perante aqueles que defendem a Pátria, sobretudo perante os que não hesitaram em dar a vida por ela, desprezo os desertores e toda a corja de cobardes e embusteiros que a longa noite partidocrática produziu. Só gentalha deste calibre pode é capaz de mentir descaradamente a dois pais.
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